Edson Vidal

Globo da Morte.

Ah! Como era gostoso ver a lona do circo sendo armado, sentir o cheiro do cepilho sendo espalhado no picadeiro e ouvir pelo alto falante o locutor gritar: 
- O circo chegou! E o palhaço o que é? Ladrão de mulher!

Pois é, da varanda do apartamento posso ver montado no Parque Barigui um circo, que a noite fica todo iluminado refletindo suas luzes no remanso do rio. Isto me faz lembrar quando o “Circo Orlando Orfei” se instalou na Praça Afonso Botelho, em frente do campo do Atlético, porque a casa de meus pais ficava na rua Des. Motta entre as Avenidas Iguaçu e Getúlio Vargas.

Ele comandava tudo, da montagem das lonas até a direção do espetáculo, que era grandioso com artistas de primeira linha e inúmeros animais adestrados. Como dono do circo o seu papel também era de domador, atuando dentro de uma jaula gradeada de ferro, entre leões, tigres e leopardos furiosos.

Com o estalar de seu chicote as feras se sujeitavam ao seu comando. Tinha equilibristas, contorcionistas, trapezistas, malabaristas, Magico, águas dançantes, cavalos, elefantes, focas, cachorros, dançarinas, palhaços, atiradores de facas e o espetacular Globo da Morte.

Nestes arrojados pilotos e suas motocicletas voadoras dentro de uma bola gradeada de ferro, aproveitando da Lei da Gravidade, giravam em todas as direções fazendo  os motores produzirem barulho ensurdecedor, tudo entre luzes que acendiam e apagavam levando a plateia ao delírio.

Não havia quem não pensasse em uma colisão entre as motos, tal a sensação de perigo que dava aquela apresentação que era o último ato do inesquecível espetáculo circense.

Na saída dava bem para sentir no ar o cheiro do combustível dos motores. Pois é, mal comparando, a tarefa do próximo Presidente da República meio que se assemelha como entrar em um Globo da Morte com a missão de pilotar uma das motocicletas, sem medo de enfrentar os perigos e os imprevistos. Mesmo por que antes de tomar posse no cargo já está sendo cutucado pelos palpiteiros.

Bastou dizer que vai extinguir o imprestável Ministério do Trabalho para ouvir os gritos de protesto dos sindicalistas e jornalistas da esquerda festiva, afinados na única tecla de que representará um retrocesso histórico e de efeito catastrófico. Pura birra sem nexo e própria de quem não tem nada para fazer.

Ditas atribuições do trabalho já fizeram  parte de outros ministérios, sem gerar prejuízo à  ninguém. Outra: a propalada fusão do Ministério do Meio Ambiente com o da Agricultura. Os ambientalistas reagiram como se fosse o fim dos tempos, o caos absoluto como se o capim artificial fosse único verde que restará sobre o solo do país.

Em  outras palavras: parece que racionalizar o número de Ministérios causará uma hecatombe irreparável. Ora, chega de hipocrisia, pois é imperativo reduzir o tamanho da Máquina Pública e estancar o ralo da gastança onde se esvai as finanças do erário.

São medidas que bem atendem a racionalidade e bom senso. No entanto bastou falar em extinguir e fundir ministérios recebeu críticas e o pejo de antidemocrático. Mas se optar em mantê-los, as mesmas vozes vão dizer que será um absurdo de lesa pátria. ““É a velha máxima:  “ se ficar, o bicho pega; se correr, o bicho come”.

E pensar que este ainda é um dos menores problemas que o Presidente enfrentará. Como se elegeu sem ter nenhum compromisso político poderá montar sua equipe de governo de acordo com seu próprio perfil. Tarefa aparentemente fácil, porém indigesta. Tendo optado por pessoas de gabarito ímpar, já rotuladas de notáveis, não poderá nunca perder as rédeas da equipe para não ferir suscetibilidades ou inflar egos.

Outro ponto será não se esquecer de ser algodão entre cristais, incluindo-se nesse rol o seu vice-presidente, homem inteligente, porém de temperamento forte e ainda com voz de comando. Será um relacionamento que deverá ser tratado com luvas de pelica.

Enfim, a jornada presidencial dos quatro próximos anos que começará a partir de primeiro de janeiro, será árdua e sinuosa, com percalços, oposição vesga, Imprensa manhosa desejando agrado  com as famigeradas verbas de publicidade, dinheiro escasso, malandragens protagonizadas pelos políticos de sempre e ódios gratuitos.

Em compensação para expungir de vez a sujeira da corrupção e a impunidade, poderá contar com o povo trabalhador e cumpridor de obrigações para atingir esse desiderato. Pois agindo para acertar, nunca lhe faltará  o amparo daqueles que o elegeram.

Assim quando ele assumir o cargo e entrar no “Globo da Morte” tomara que pegue a melhor motocicleta e enfrente com arrojo todo o trajeto que vai percorrer dentro da desconhecida esfera, sem receio de errar, cair, colidir ou derrapar. E quando no final do mandato os motores pararem e o espetáculo da administração acabar, que possa colher a admiração e aplausos dos bons brasileiros, pelo dever cumprido.

“Governar é sempre uma tarefa que exige transparência, postura de estadista, equilíbrio, firmeza e boca fechada. Ouvir é sempre melhor do que falar. E agir é imperativo sempre que necessário. Para impor autoridade é necessário antes angariar respeito!”
Edson Vidal Pinto

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