Edson Vidal

Macarronada com Sardinha.

Houve um tempo distante em que as famílias eram grupamento de produção e não de consumo, onde era comum e mais econômico comer sardinha em lata, prensada no óleo, das marcas “Coqueiro” ou “Pescador”, mas que eram servidas em uma mesa para toda a família reunida. Lembro que parecia uma especiaria dos deuses para dar sabor à comida, inclusive, ardilosamente digerida no meio do pão.

Hoje em dia ninguém mais comenta nada sobre sardinha em lata, a preferência é mais sofisticada e as comidas bem mais produzidas. A latinha era menor do que o tamanho de uma mão aberta e estreita, onde os peixinhos ficavam exprimidos no meio do azeite, bastava abrir com o abridor de latas e comer. Se era bom? Era ótimo. Como não era fácil comer camarão e outros frutos do mar pela dificuldade de conservação, além de ser muito caro, o jeito era apelar para a lata de sardinhas, que qualquer um podia servir sem necessidade de pendores culinários.

Este a propósito era o meu caso. Nunca fui chegado ao fogão e sou reconhecidamente um zero à esquerda na arte de cozinhar. E como todo o bom neófito nesta área gosta de comer.

E sardinha servida no meio do macarrão? Ah! Comi muito no meu tempo de escoteiro e só de lembrar sinto o gosto até hoje na minha boca. Comia para não passar fome, lembrando que o macarrão era pegajoso e às vezes servido frio. Valia tudo quando se era jovem e a aventura era o prazer.

Mas de ontem para hoje quanta coisa mudou; foi-se o tempo de esperar a semana inteira para tomar gasosa “Cini” só no almoço de domingo ou de brincar com os primos na casa de um ou outro tio. Hoje, os primos mal se conhecem e os tios estão cada vez mais distantes.

Acabaram os almoços domingueiros na casa dos avós, os filhos, noras e netos têm outros programas e não podem perder as festas com seus amigos, estes são mais importantes e companhias mais agradáveis.

Os parentes se distanciaram e cada um têm seus próprios nichos de amizades, fazem passeios, viagens, bailes e compartilham com pessoas estranhas das alegrias da vida, são novos tempos e preocupações. Nas residências nem retratos de família existem mais, aliás, até às prateleiras onde ficavam expostas as molduras com retratos caíram de moda, tudo é mais moderno e útil. Nem o Relógio Cuco da parede conseguiu sobreviver e muito menos o pinguim de porcelana que reinava sobre o teto da geladeira. 

A conversa hoje é sobre “nós” e “eles”; resistência dos “progressistas” contra os obtusos de direita; a degradação moral da mulher urinando na via pública como ato de protesto em defesa de uma nova ordem (ou desordem?); a promiscuidade sexual e a ideologia castradora e utópica.

E a família? Para quem não preserva valores e não sabe amar e nem suportar aqueles que são sangue de seu sangue, a família é um atraso é uma invenção burguesa. Vale mesmo é a liberdade sem eira e nem beira, a igualdade a qualquer custo, a defesa do direito de viver em uma sociedade sem freios e venerar falsos líderes.

A civilização cede lugar a barbárie. E se hoje ninguém mais se lembra da lata de sardinhas, amanhã, ao que parece, é provável que até o macarrão deixe de existir...

“Não existe proteção maior do que o agasalho da família. Avós, pais, mães, filhos, tios, sobrinhos e primos representam a base e o sustentáculo de qualquer sociedade humana. Sem a família o próprio Estado não se sustenta”. 
Edson Vidal Pinto

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