Edson Vidal

João, João, Até Você.

E da noite para o dia a vida do homem milagreiro se transformou em nada. Um apocalipse aconteceu em Abadiânia e fez desabar a Casa de Dom Inácio. E para consertar a propriedade João sacou do banco, na última sexta-feira, trinta e cinco milhões de reais.

Dizem as más línguas que o dinheiro serviria para o João fugir, já que sua prisão foi decretada. Interessante que muitos não querem acreditar que trezentas e trinta e cinco mulheres denunciaram o João, por práticas de atos libidinosos. Eles alegam que nunca viram nada, aliás, nunca souberam de nada que pudesse denegrir a imagem honrada de um enviado de Deus na terra. Coitados, são pessoas cegas pela fé; pois os crimes sexuais são sempre praticados às ocultas, entre quatro paredes e sem testemunhas de vista.

A pequena cidade de quinze mil habitantes está economicamente combalida. O comércio está estático, sem movimento algum, porque diminuiu consideravelmente o número de turistas e doentes que visitavam o lugar. João que era de Deus foi reduzido a João Só, só João, nada mais. Um triste episódio que gerou descrença e descrédito no ser humano; sem surpresa nenhuma, porque nem o homem e nem a mulher são seres perfeitos.

O que restou foi apenas o sofrimento daqueles doentes que procuravam e acreditavam em uma cura através da fé e da esperança depositada nas mãos de um homem místico, quase santo. A sua prisão não exime sua culpa e nem acalenta os que ainda acreditam no seu poder divino. A cidade de Abadiânia está com o futuro comprometido, a economia minguando aos poucos até ficar sem nenhum visitante. João nunca mais será o mesmo, apesar de muitos não acreditarem nas acusações que lhe são dirigidas.

E o dinheiro? Que valor expressivo para quem se diz médium e fica a serviço de entidades espiritas, fazendo o bem e sem olhar a quem. Pois é,  difícil de digerir que não sobraram razões para o enriquecimento e por consequência, através do abuso da credulidade  das pessoas aflitas e desesperançadas.

Ele se prestou como tábua de salvação produzindo milagres e espargindo amor ou foi um embusteiro como muitos outros que vendem ilusões e arrecadam somas significativas de dinheiro, a título de doações dos incautos? O que dizer nessa hora? Ele como médium teria esgotado o suficiente o seu papel e como homem mostrou sua fragilidade humana? Será que dá para separar as duas coisas: o espiritual do profano? Eis a questão.

Mal comparando João foi um Lula sem política, mas com igual arte da encenação e como garimpeiros de fortunas. Cada um a seu modo e meio, pelo menos é o que transparece pelos escândalos em que ambos foram protagonistas. E como meliantes acabaram na cadeia. E a fé no gênero humano cada vez mais arrefece, infelizmente...

“João e Luiz Ignácio foram bons até o momento que deixaram de ser. É uma pena porque ambos deixaram de servir para serem servidos. Só os incautos acreditam que tudo não passa de calúnia. Cegos são aqueles que não querem enxergar!”
Edson Vidal Pinto

Atenção: As opiniões dos nossos colunistas, não expressam necessáriamente as opiniões da Revista Ações Legais.