Edson Vidal

A Procuração

Tem certas instituições financeiras em que seus funcionários parecem inimigos disfarçados e sempre dispostos a irritar seus usuários. Foi-se a época em que ser bancário era um emprego cobiçado porque era a certeza de um futuro promissor.

Na minha mocidade ingressar na carreira do Banco do Brasil tornava o rapaz um ótimo partido para casar.
- Cleusa está namorando.
- Quem é o pretendente?

E para responder a futura sogra do moçoilo estufava o peito e respondia para quem quisesse ouvir:
- O Raul Otávio: um ótimo rapaz, de boa família, funcionário do Banco do Brasil!

E dizer isso era uma glória que servia para despertar a cobiça da amiga, que não podia dizer o mesmo do namorado de sua filha. Enfim, o tempo passou e tudo mudou. Claro que não são em todas as agências do nominado banco que o atendimento é sofrível, pelo menos no bairro onde resido ela não é exceção.

Fui cliente do BB desde 1.968 e encerrei  minha conta no BB Estilo agencia Juvevê (cujo posto de atendimento avançado está instalado no Tribunal de Justiça), em razão de minha aposentadoria. Portanto não sou mais cliente da referida instituição financeira.

No entanto a minha mulher que foi instituída procuradora para operar a conta de uma correntista da agência do meu bairro, uma sua amiga adoentada, precisou da devida prestação de serviços para se desincumbir do encargo assumido. Este era simples: efetuar os pagamentos de luz, água, telefone, condomínio, Unimed, prestação diversa e sacar certa quantidade de dinheiro.

E para isso a Procuração foi feita em cartório, por instrumento público. Como a correntista ficara doente da noite para o dia e foi operada de emergência, a Procuração foi feita às pressas, pois as contas estavam na iminência de vencer. Eu acompanhei minha mulher por antever problemas; e acertei.

O funcionário examinou a Procuração e disse que faltava autenticar a assinatura do titular do cartório, recomendando que a validação necessária fosse feita no cartório das Mercês, por ser o mais próximo da região.

E que depois de autenticado o documento fosse levado no BB daquele mesmo bairro para ser fotocopiado, registrado e encaminhado ao setor jurídico do banco para a comprovação de autenticidade.
- E as contas que vencem amanhã? 
- Lamento - respondeu com certa má vontade o atendente. - A senhora vai ter que esperar...
- E quantos dias o jurídico levará para analisar o documento?
- No máximo três dias.

Saímos do BB e nos dirigimos ao banco em que temos conta conjunta e minha esposa efetuou os pagamentos e fez a retirada de dinheiro de acordo com o que motivara o ato cartorial.

No dia seguinte fomos ao cartório e no banco indicado para regularizar e formalizar o que fora pedido. Como o estado de saúde da amiga de minha mulher tinha certa gravidade, esperamos transcorrer quase quinze dias para retornar na agência do BB do nosso bairro para cumprir a Procuração. Minha mulher foi atendida pelo mesmo funcionário.
- Nada de novo, o jurídico não analisou ainda a autenticidade da Procuração - foi o que disse o atendente, sentado em sua escrivaninha.
- Posso falar com o gerente para esse intervir junto ao setor jurídico do banco?
- Gerente? Aqui não tem gerente nenhum, o banco é mera fachada, a gerência funciona em outro lugar...

Incrível, a afirmação era verdadeira. Minha mulher e eu desistimos de insistir e ela ficou com uma “Procuração” de lembrança. 

Nas semanas seguintes a amiga e correntista melhorou e quando pode ir ao banco fez o ressarcimento devido à minha mulher. Triste realidade de um banco que já foi ícone de varias gerações. É pena que esse episódio tenha ocorrido no espaço mais trepidante do  Barigui do Champagnat...

“Uso de Procuração por instrumento público não tem eficácia imediata e sua fé pública nada vale perante instituição financeira. Em nome de possível fraude o ato cartorial depende do setor jurídico do banco. Cautela recomendável, contudo exagerada, quando o procurador tem documentos pessoais idôneos e é correntista do Sistema Financeiro. Medida protelatória e passível de ação judicial por dano moral e material”.
Edson Vidal Pinto

Atenção: As opiniões dos nossos colunistas, não expressam necessáriamente as opiniões da Revista Ações Legais.