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curo eu mesmo fazer as tarefas aparentemente mais simples, como acom-
panhar as publicações e confeccionar as petições diversas, independente-
mente da complexidade. Sou sempre eu que participo pessoalmente das
reuniões e tudo mais. Vejo que um dos segredos da advocacia é o atendi-
mento personalizado, e quando digo personalizado, digo sem hipocrisia.
Acho que muitos oferecem serviço personalizado, vão na primeira reunião
de fechamento do contrato, até assinam as petições (feitas por outros) e só
voltam a aparecer na hora de cobrar honorários. É preciso não apenas ofe-
recer, mas entregar o serviço personalizado oferecido. Também não pre-
tendo manter grandes estruturas de pessoal, arquivos e relatórios. Deixo
isso para o meu cliente (escritório) com o cliente dele (empresa).
Ações Legais - O Dr. acha que a advocacia está evoluindo na mesma ve-
locidade das mudanças tecnológicas e sociais atuais?
Demetrius Nichele Macei
- Os escritórios, especialmente os mais jovens,
tem sido competentes para acompanhar as mudanças tecnológicas. Veja o
caso do processo eletrônico, por exemplo. Acho que os advogados adapta-
ram-se rapidamente a essa nova realidade. Quanto a isso os novos advoga-
dos não terão grande problema. Contudo, é preciso fcar atendo para o que
eu tenho chamado de novo jeito de advogar. Além da maneira que escolhi
advogar, que já defno como não convencional, vejo escritórios ultraespe-
cializados, outros que atuam apenas em determinadas instancias ou até
mesmo em causas muito específcas. Para dar um exemplo, conheço escri-
tórios que atuamunicamente em tribunais, deixando para outros a atuação
em primeira instância. Outros, mais específcos ainda, atuam apenas em
Ações Rescisórias, aquelas destinadas a reformar decisões judiciais defni-
tivas. Os que eu chamo de ultraespecializados, atuam unicamente em áre-
as muito específcas, como o Direito Eleitoral, o Direito Espacial etc. Vejo
isso como uma nova tendência dos escritórios. Emalguns países, o advoga-
do precisa de licença especial para atuar em 2ª instância ou junto as Cortes
Supremas. Não há essa limitação no Brasil, mas esse modo de atuação está
ocorrendo naturamente. Obviamente a remuneração desses profssionais
é melhor.
Ações Legais - O Dr. referiu-se a questões éticas por mais de uma vez em
nossa entrevista. Que importância o Dr. dá a esse tema para o exercício
da profissão?
Demetrius Nichele Macei
- Para qualquer profssão a
ética é um pressuposto, um requisito essencial, um pon-
to de partida. A atuação antiética geralmente é caminho
mais rápido para os honorários, mas encurta a vida do
escritório também. É mais difícil obter bons resultados
agindo com ética, no sentido de que o caminho é mais
longo e penoso, mas sempre vale a pena. Nas minhas
aulas procuro sempre aliar os ensinamentos do direito
material e processual coma ética, mesmo que esteja fora
do currículo da disciplina (e geralmente não está). Nessa área de atuação há
fartos exemplos de imoralidade, tanto por parte do contribuinte como por
parte do fsco. A nova geração precisa conscientizar-se disso e acostumar-se
a trabalhar mais duro, com ética, sem esperar resultado imediato. Imagine
se eu contrato diretamente com o cliente-empresa do meu cliente-escritó-
rio, semo conhecimento ou a concordância deste? Se eu não agir com ética,
esse meu projeto nunca daria certo. Mais uma vez comparando com a me-
dicina, conheço estudos estrangeiros que avaliam a conduta ética de estu-
dantes no inicio e no fnal do curso universitário. A triste constatação foi que
eles saem piores do que entraram, motivados geralmente pelo dinheiro. No
início, quando ingressaram, eram mais motivados pelo ideal. O sucesso do
advogado foi e sempre será proporcional ao crescimento de sua reputação
e honestidade como pessoa física. Uma vez eu escrevi que o advogado não
tem comprometimento com a verdade no processo e só o juiz é quem tem
o dever de buscar a verdade, isso porque o advogado tem o dever principal
de defender seu cliente. Quando digo isso não quero dizer que o advogado é
mentiroso, mas ele precisa acreditar na verdade do seu cliente. Se ele não se
convencer dessa verdade, é melhor não patrocinar a causa. Nesse aspecto,
creio que não há nem haverá novo jeito de advogar. A advocacia é essencial
para a administração da justiça, e por isso os advogados, seja de que lado es-
tejam, precisam acreditar nela também, mesmo que não sejam o seu dono.