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Vivemos nos anos 60,
diz Domenico De Masi
P
ara o sociólogo italiano Domenico De
Masi, a empresa é a instituição mais pa-
radoxal e conservadora que existe. “Em
1850, em Manchester, Inglaterra, cerca de 86%
dos trabalhadores eram operários executivos.
Agora, 70% dos trabalhadores são intelectuais,
porque a máquina foi pouco a pouco substituin-
do o operário. Mudaram os trabalhos e muda-
ram os trabalhadores, mas não mudou a orga-
nização. A mesma organização que havia sido
pensada para os operários é aplicada hoje, aos
trabalhadores da mente”, diz De Masi.
Para ele, a sociedade atual se comporta como
nos anos 60. “Só os jovens que não”, ressalva.
“A Dilma se comporta como nos anos 60, a mí-
dia se comporta como nos anos 60”, afrma.
“Estamos em uma sociedade nova, que se com-
porta como sociedade velha. Isso é cultural do
mundo todo e se chama gap cultural. Curitiba
foi vanguarda com Jaime Lerner, mas agora se
comporta como antes. Google e Micrsoft produzem o futuro, mas são organizados como
antigamente”, diz.
Professor de Sociologia do Trabalho da universidade romana de La Sapienza, De Masi,
hoje aos 75 anos, se tornou internacionalmente conhecido em 2000, com o lançamen-
to de “O Ócio Criativo”. Na obra, o autor defende a redução das jornadas de trabalho
e a flexibilização do tempo livre, em um contexto mais adequado à globalização e à
sociedade pós-industrial. O sociólogo conversou com um grupo de universitários e
professores, na UniBrasil, em Curitiba.
A palestra faz parte do projeto denominado UniBrasil Futuro, criado em 2008 para
aproximar o mundo acadêmico dos grandes pensadores mundiais, com o objetivo de
incentivar o debate e a inovação. Sob a coordenação da professora Wanda Camargo,
o evento já recebeu personalidades como Luiz Felipe Pondé, Maitê Proença, Serginho
Groisman, Arnaldo Antunes, Gustavo Franco, Laurentino Gomes, entre outros.
De acordo com o presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-
-PR), Jacir Ventura, a obrigação primeira da escola é um bom ensino curricular, mas
há outras demandas no sentido de preparar esse aluno para o mercado de trabalho
e para a cidadania. E um desses quesitos é a criatividade. “É responsabilidade da es-
cola despertar o interesse, a motivação e criar o ambiente propício para o estudan-
te desenvolver o pensamento crítico e criativo”, afirma. Segundo ele, “os alunos e
professores presentes na palestra de Domenico De Masi jamais esquecerão as ideias
irradiadoras do sociólogo italiano”.
“O Domenico de Masi foi muito importante para o desenvolvimento do meu trabalho,
como artista de teatro, e a sua obra “O Ócio Criativo” foi fonte de inspiração para
um workshop que produzi sobre o processo de criação”, afirma a paranaense atriz
Fátima Ortiz. “Muitos conceitos de Domenico de Masi permeiam o trabalho da nossa
escola”, diz.
Sociólogo italiano Domenico De Masi
Professora Wanda Camargo recebe o sociólogo De Masi
Fotos: Heloísa Rego