Socorro, Estou Cercado de Corruptos!

Eu sei que em Guaratuba só chove, mas eu sou teimoso esperando que um dia o sol apareça, faço promessa todas as vezes que venho veranear por aqui. É engraçado quando surge uma nesga entre as nuvens e aparecem alguns raios descoloridos do sol porque as pessoas acham que o verão chegou e começam a colocar trajes de banho. Uma euforia sem tamanho por alguns minutos até que a chuva chega para molhar o ânimo dos incautos. 

Eu já não caio mais nesta, porque tenho sessenta ou mais anos de praia de “Guarachuva”. Sou uma espécie de praiano e tipo masoquista ferrenho. Mas não sei por que me deu uma súbita vontade de colocar os pés na areia da praia, contrariando minha índole de ficar apenas na piscina, agora, em flagrante desrespeito às normas de isolamento social. No entanto a prudência superou o ímpeto da negligência e antes de sair de casa vesti minha roupa completa de escafandro, inclusive com capacete e portinhola de vidro apenas na frente dos olhos. 

Claro que de casa até a praia distante apenas três quadras, todos me olhavam como se eu fosse um extraterrestre. Não liguei porque estava imune ao Covid. Minha chegada na praia foi uma festa e me senti como se fosse o próprio Roberto Carlos cercado pela tietagem.


Caminhei como o Yul Brinner um artista das antigas de Hollywood que tinha uma pose especial quando andava no filme “Ana e o Rei do Sião”. Tive dificuldades de dar um passo e logo o outro porque os mais curiosos ficavam muito perto e as crianças seguravam o tecido grosso de borracha da minha calça.


Eu parecia um trator velho puxando um caminhão FNM carregado de sacas de café. Mas mesmo assim resisti e não parei de andar, deixando para trás rastro profundo na areia por causa das minhas botas de ferro. Porém quando mal cheguei próximo do prédio da Associação dos Magistrados senti minhas pernas fraquejarem pelo peso excessivo da roupa e calor que não me deixava muito ar para respirar. Tentei andar mais uns cem metros e cai exausto na areia. 

Bati a parte frontal do capacete na parte úmida da orla e vi “pular” de um pequeno buraco da areia um corrupto. Isso mesmo um bichinho que prolifera na faixa litorânea para a alegria dos pescadores que fazem dele uma boa isca para pegarem deliciosos baiacus.


Olhei firme para o corrupto e ele tinha a cara do Lula; firmei os olhos e conclui sem nenhuma dúvida que era o próprio:


- Presidente, é você?


- Claro companheiro, quem você esperava que fosse? O General Mourão?


- Mas você não estava em Cuba? - insisti.


- Cortina de fumaça, companheiro. Eu gosto de veranear em Guaratuba porque aqui posso conviver bom tempo com muitos outros corruptos ...


- E quem você encontrou?


- Não vou dizer, não sou traíra!!


E ofendido enterrou a cabeça no buraco. E eu o chamei várias vezes:


- Lula! Luiz Ignácio! Lula dá Janja!!


Mas ele não deu bola e sumiu como um passe de mágica. Foi quando me ocorreu chamar:


- Maia! Coloir! Renan!


E vi apenas aparecer umas cabecinhas não areia que logo recuaram e não apareceram. Me dei conta que estava cercado de corruptos por todos os lados. Com um esforço hercúleo consegui abrir a portinhola do meu capacete e gritei para as pessoas que me observavam:


- Me deixem em pé! Por favor me levantem, senão acabarei sem minha carteira de dinheiro. Na areia está cheio de corruptos!!


Foi quando eu ouvi uma voz esganiçada vindo do fundo de um buraquinho de areia:


- Corrupto com muito orgulho! Porém livre como uma andorinha e rico como o tio Patinhas!! Quer coisa melhor?


Comecei a chorar copiosamente e aprendi a maior lição da vida: que toda verdade dói!

Voltei para casa, joguei meu traje de escafandrista na garagem, deitei-me na rede esticada entre dois pilares e continuei chorando ...

“O sujeito de bem leva uma vida toda trabalhando para no final da vida ainda ter que trabalhar. O corrupto usufrui do Poder e das benesses do Estado para no fim da vida se tornar um nababo e rir da cara dos honestos. Se não existir céu e nem inferno eu juro que vou protestar e virar socialista!”


Edson Vidal Pinto