Tempo Sem Freio

Não sei se é porque os acontecimentos do dia acontecem todos os momentos e distraem nossa atenção mas ouso dizer que não se faz mais “tempo” como antigamente. Lembro de minha adolescência que o mesmo tempo custava passar quando estava na sala de aulas, para fazer lição, estudar acordeão e esperar a hora de jogar futebol. E ao cair da noite, na esquina de casa, sob a luz quase apagando do poste da rua, entre as conversas e brincadeiras com os amigos levava tempo para chegar vinte e duas horas, hora marcada do toque de recolher. 

E sobrava tempo para tudo e sem levar em conta na época que o tempo não era como é hoje uma questão de preferência. Tudo parecia acontecer em câmera lenta pois nada era previsível. Nem o pai e nem mãe sabiam do sexo do bebê antes deste nascer.  Tinha menino com enxoval cor de rosa e menina de cor azul. Mas hoje não.

Nós sabemos dias antes quando e onde vai chover, fazer frio, calor e ventar. Os governantes castraram nossa vontade porque em razão da pandemia vivemos tensos sem saber se podemos trabalhar, sair de casa, ir ao parque ou frequentar o shopping e isto nos tira da normalidade e nem sentimos o tempo passar. Mas ele é amargo e passa sem mesmo a gente notar. 

E sabe por quê estou escrevendo sobre isto? Já olhou com calma no calendário? Pois é já estamos chegando quase na metade do ano e nem nos demos conta que muitos e muitos momentos ficaram para trás, significando que perdemos muito tempo da vida. E esquecemos que a vida não é apenas pandemia e o pandemônio que o Luiz Ignácio quer fazer no país -, aliás estamos esquecendo muita coisa. O dia que eu voltar a entrar num avião vou chamar o piloto de motorista, o comissário de bordo de garçom e o vácuo no trajeto do vôo de kakaka. Faz tanto tempo que não vou ao shopping que vou fazer aulas de escalada para poder “andar” na escada rolante e levarei uma bússola para não me perder nos seus corredores; como também, uma mochila nas costas com barraca, cobertor e cantil caso não encontre a porta de saída. 

Não é brincadeira não, como a marcha do tempo não tem freio tenho medo só de pensar que daqui a pouco vai aparecer o Papai Noel prometendo presentes para nós pagarmos e para ele levar a fama com a piazada. Tipo do personagem que nunca caiu de moda. Engraçado que só não passa o tempo para pagar Imposto de renda, na sala de espera de consultório médico, para tomar vacina, na hora de pagar as contas e principalmente o de quitar o cartão de crédito. 

Quanto ao mais é tudo acelerado ao máximo como um piscar de olhos. Quer um exemplo? Quando você assiste um bom filme na Netflix mal ele começa e logo aparece o maldito “The End”. E o pior é que não tem como parar o tempo ou ao menos desacelerar o seu ritmo:

- Ledo engano, meu chapa! - falou a voz de minha consciência. 
- Como ?! Tem maneira de evitar que o tempo corra? - perguntei entusiasmado. 
- Obvio ...
- Como? - insisti.
- Você já experimentou assistir na Netflix “Lula, o filho do Brasil “? O “Jornal Nacional” inteirinho ...
- ?
- O programa da Fátima Bernardes, do Luciano Huck, do Datena, do Bial, do ...
-Chega! - gritei meio sem jeito - Você está querendo que eu morra de tédio assistindo essas besteiras ?!!
- Não, claro que não. Mas você não está reclamando que o tempo passa depressa?
- Sim ...
- Pois é, se você assistir um único deles você vai ver bem de perto como o tempo também parece uma eternidade ...


“Não adianta reclamar que o tempo passa depressa porquê a culpa é nossa. Tem tanta coisa que nos aborrece só de ver que se perdermos tempo com elas o tempo quase para. Basta assistir uma sessão da CPI da Ivermectina e ouvir o Renan que o tempo não passará nunca!”

Edson Vidal Pinto