Revista Ações Legais - page 40-41

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Ações Legais - O que o sr. pretende ao propor um rompimento com os modelos pedagógi-
cos verticais de ensino e aprendizagem?
David Tavares
- Meu objetivo é convidar a sociedade para a reflexão de um novo olhar
ético, e não moral apenas, sobre as diferenças humanas individuais. Proponho um novo
pensamento que se adéqua aos diferentes sujeitos do mundo contemporâneo, um res-
peito aos seus modos de vida singulares e não mais compará-los pura e simplesmente,
pois tais comparações convidam antes a criação de referência “fixas”.
Quem dita as referências acaba por definir dois tipos de indivíduos: os mais próximos e os
mais distantes das referências. Por exemplo, qual é o modelo de beleza atual da socieda-
de globalizada? Assim, você acaba por identificar o belo e o feio a partir da criação de uma
referência, o que sabemos poder ser, em muitos casos, tendenciosa.
Dessa forma proponho, além de um rompimento aos velhos modelos verticais e referen-
ciados a tipos específicos de inteligências, uma horizontalização dos modelos pedagó-
gicos de ensino e aprendizagem indo ao encontro de uma liberdade individual na busca
pelo saber. Precisamos preparar o mundo para estes novos sujeitos que parecem ser
mais desenvolvidos que as gerações anteriores.
Ações Legais - No livro o sr. mostra como deve acontecer esse rompimento?
David Tavares
- Sim. No livro trago uma explicação do ímpeto do homem moderno em
atrasar a evolução de sua espécie com táticas cada vez mais violentas de controle e do-
minação do pensamento humano condicionado a conceitos referenciados por ideias ten-
denciosas. A manutenção do poder pelo poder parece provocar o desespero e a paranoia
de muitos em nossa sociedade.
Entretanto, a natureza em toda a sua sabedoria natural que não busca o “certo” mas o
“equilíbrio”, está passando por cima destes ideais arcaicos de manutenção e conserva-
ção das tradições institucionais essencialmente políticas e religiosas. O rompimento não
está sendo provocado por nós, infelizmente, mas pela própria evolução de nossa espé-
cie, uma latente adaptação produzida no encontro com a tecnologia em uma interface
cibernética, revelando a emergência de um novo formato de humano, um trans-humano
cibernético e anárquico que não se adéqua mais aos antigos modelos e padrões de nossa
época.
Ações Legais - Seu livro mostra um admirável mundo novo para a educação?
David Tavares
- Sim. E tento voltar nossas atenções para a emergência deste fato que
ocorre independente de nossos desejos e vontades. Como disse anteriormente, a nature-
za não busca o certo contra o errado, mas sim o equilíbrio contra o desequilíbrio.
Um autodidatismo natural está sendo despertado pela tecnologia e libertará o novo sujei-
to das anteriores amarras institucionais de nosso tempo, afinal, trata-se de uma mudança
no próprio ser, um possível trans-humanismo tecnológico cada vez mais complexo e de
difícil compreensão por nosso pensamento limitado pela linearidade de ideias.
Ações Legais - Que tipo de críticas sobre a abordagem do livro que o sr. espera receber?
David Tavares
- De todos os tipos. Critico veementemente os padrões e referências utili-
zadas pela sociedade contemporânea. Busco desenhar um rompimento natural desde as
instituições morais impostas de uma mesma maneira aos “diferentes” sujeitos até os con-
troles, religiosos e políticos, de pensamento e comportamento predominantes em nosso
mundo. Portanto, estou ciente dos medos que estas ideias provocam nos mantenedores
de nossas tradições, pois temem as mudanças apontadas neste livro, ao perceber que
o controle do pensamento humano, conquistado tão facilmente no passado, corre um
sério risco de, pela tecnologia, mudar de mãos e retornar ao próprio sujeito tecnológico
mais evoluído.
Ações Legais - O homo ciberneticus está surgindo como uma nova raça? Como o sr. utiliza
essa interpretação (definida pelo futurólogo Ian Pearson) numa nova filosofia educacional?
David Tavares
- Não penso que o homo ciberneticus surja como uma nova raça, mas sim
como uma emergente mudança de nossa própria raça: a humana. Assim, ele é modificado
pela tecnologia, e vai do homo sapiens ao homo ciberneticus.
Essa interpretação de homo ciberneticus é apresentada com o objetivo de percebermos
a mudança e nos antecipar aos acontecimentos já presenciados por muitos, preparando
um novo modelo de ensino e aprendizagem para este novo ser tecnológico, novos am-
bientes de estimulo de seus cérebros mais evoluídos, uma nova ética filosófica para um
novo mundo que emerge com estes acontecimentos.
Ações Legais - Quais experiências pessoais e conhecimentos adquiridos em seus estudos o
sr. aplica e mostra no livro?
David Tavares
- Atualmente sou professor universitário. Também sou cientista cognitivo
e profundo observador dos movimentos naturais ocorrentes no pensamento e compor-
tamento do homem, principalmente no cérebro.
A curiosidade me levou a desenvolver modelos de aplicação prática de reprogramação
cerebral e sistema nervoso, assim como a de um natural desenvolvimento intuitivo. A
pergunta que me faço atualmente é: será possível acelerar ainda mais a evolução deste
novo sujeito? Está ficando claro, nos resultados que tenho obtido, que sim, é possível pre-
parar o cérebro para se adaptar mais facilmente.
ENTREVISTA
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