Revista Ações Legais - page 20-21

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VARA DA FAMÍLIA
Reflexões sobre a complexidade
dos dramas humanos
A
juíza Andréa Pachá, da 4ª Vara de
Órfãos e Sucessões da Capital do
Tribunal de Justiça do Rio de Janei-
ro (TJRJ), esteve recentemente em Curiti-
ba para proferir a palestra “Pluralidade e
felicidade – a transformação em famílias
nas casas e nas ruas”, no UniBrasil Centro
Universitário. O evento fez parte do Proje-
to UniBrasil Futuro. Na ocasião, a juíza lan-
çou seu segundo livro “Segredo de Justi-
ça” e falou com exclusividade para a Ações
Legais.
Ações Legais - Em seu segundo livro, “Se-
gredo de Justiça”, a sra. também compar-
tilha experiências como juíza da Vara da
Família. São histórias de ficção baseadas em fatos reais? O pano de
fundo é o funcionamento da Justiça brasileira?
Andréa Pachá
- “Segredo de Justiça” é, de alguma forma, a con-
tinuação de “A Vida não é Justa”. No primeiro livro, escrevi mais
histórias que tratavam do fim do amor, dos divórcios, do momento
em que um dos dois percebe que o sonho de eternidade pode chegar ao fim. Havia, ainda,
outras histórias que envolviam guarda, visitação, pensão alimentícia e partilha dos bens
que eu fui lembrando e tive vontade de escrever. Assim nasceu o Segredo de Justiça. São
crônicas de ficção, também inspiradas na observação dos casos concretos, que revelam
as nossas contradições e a nossa precariedade para lidar com os desdobramentos de
uma separação amorosa.
Ações Legais – Qual a diferença entre “A Vida Não é Justa” e “Segredo de Justiça” em re-
lação aos problemas familiares e dramas humanos originados com a dissolução de uma
união?
Andréa Pachá
- Acho que em Segredo de Justiça as histórias são mais duras.  Algumas sem
saída aparente e outras profundamente tristes. De alguma forma, é possível perceber as
transformações experimentadas pelas famílias nos últimos 20 anos. Normalmente são
muito tristes aqueles processos nos quais o casal não percebe que está usando os filhos
para atingir o parceiro.
Ações Legais – Quais são os maiores problemas enfrentados nas relações familiares? E o
que mais fragiliza essas relações?
Andréa Pachá
- O que eu percebo como um dos problemas mais graves é a dificuldade
de lidar com o amor quando ele acaba. Na maioria das vezes, quem ainda ama acha que
pode amar pelos dois, o que é impossível. O ideal do amor romântico, do amor idealizado
é assimilado culturalmente ao longo de décadas. Quando alguém precisa lidar com o luto
do fim do amor, tudo aquilo em que se acreditava parecer ficar em xeque. É preciso uma
grande dose de maturidade para que o fim do amor não signifique uma ruptura que che-
gue aos filhos e que impeça qualquer reconstrução a partir de então.
Ações Legais – Os juízes das varas da família estão preparados para tratar desses dramas
com olhar mais humano e menos distante da sociedade e mais compreensão dos conflitos?
Andréa Pachá
- Creio que é fundamental para a formação não só dos magistrados, como
Fotos: Divulgação
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